Mudança da hora

Dizem que a hora muda este fim de semana. Outra vez. E lá vamos nós, num ritual quase pagão, adiantar ou atrasar ponteiros, mexer em micro-ondas, relógios de parede e, claro, naquele relógio do carro que ninguém sabe acertar desde 2008.
A promessa é sempre a mesma: mais luz, mais produtividade, menos energia gasta. Mas convenhamos — o que realmente muda é o número de pessoas que chega ao trabalho a dizer “isto hoje está-me tudo trocado”. Há quem defenda a mudança com unhas e dentes, há quem a odeie com a mesma convicção com que odeia segunda-feira. No meio, o resto de nós tenta apenas perceber se deve jantar antes ou depois do pôr do sol.
A ciência diz que o corpo precisa de dias para se adaptar. O relógio biológico entra em greve, o sono faz birra e o café passa a ser alimento de sobrevivência. E no fundo, tudo isto para quê? Para um pôr do sol às dez da noite em junho e um nascer do dia em modo “vampiro” em dezembro.
Há quem diga que esta poderá ser a última mudança de hora. Mas já ouvimos isso tantas vezes que começo a achar que é o equivalente legislativo ao “é só mais um episódio e vou dormir”. Ainda assim, guardo uma pequena esperança — não por preguiça de mexer nos relógios, mas porque já merecíamos um horário que não mude de humor duas vezes por ano.
Até lá, cá estamos: uns a perder uma hora de sono, outros a ganhá-la, e todos a perguntar o mesmo — afinal, que horas são?



